Saúde mental dos profissionais da saúde
Em minha atuação em instituições de saúde, tenho percebido que há ainda muita resistência por parte dos profissionais da saúde a procurarem ajuda para tratarem de suas questões emocionais, em razão de enfrentarem ainda ambientes hostis com relação às questões emocionais.
Além de vivenciarem, diariamente, situações estressoras e de muito sofrimento bem como ambientes inóspitos e limitações do sistema de saúde, aspectos característicos próprios do trabalho de assistência a pessoas adoecidas, ainda precisam manejar as questões emocionais que podem ser suscitadas decorrentes do contato com os pacientes (e seus familiares) e das interferências de aspectos concernentes a vida pessoal no exercício profissional.
O sofrimento subjetivo desses profissionais demanda a construção de espaços institucionais que proporcionem a eles oportunidades de investigar as causas dos impactos negativos em suas subjetividades e o tratamento das consequências de ser um profissional da saúde, contribuindo para que eles possam, por sua vez, cuidar dos pacientes com o mínimo de interferências de aspectos subjetivos de suas vidas nas responsabilidades profissionais.
No entanto, infelizmente, o sofrimento subjetivo do profissional da saúde acaba ficando em segundo plano uma vez que ainda e negligenciado pelas instituições, pelos colegas e pelo próprio profissional ou e considerado mas pela via da hostilidade.
Evitar o sofrimento que os profissionais da saúde vivenciam não é possível. O que é possível e extremamente importante é que o sofrimento dos profissionais passe a ser considerado e enfrentado para, depois, ser tratado e amenizado. Caso contrário, a qualidade de vida dos profissionais da saúde pode ser intensamente prejudicada, a profissão pode deixar de ser exercida de forma saudável e com qualidade, culminando na ocorrência de absenteísmos e afastamentos e pode haver atuação de aspectos de suas subjetividades, como por exemplo, a despersonalização que diz respeito ao distanciamento emocional que o profissional se utiliza para se defender dos aspectos subjetivos dos pacientes, levando-os a desenvolver atitudes e comportamentos defensivos, como a agressividade, egoísmo e cinismo para com os pacientes e colegas de trabalho.
Ser um profissional de saúde e não vivenciar experiências de sofrimento é impossível. Mas é possível, sim, ser um profissional de saúde e não adoecer psicologicamente, desde que haja espaço para o profissional considerar o seu sofrimento e buscar por ajuda, sem receio de sofrer bullying e/ou retaliações por parte dos colegas. A enfermeira e pesquisadora norte-americana Suzanne Gordon tem alertado para a importância do estabelecimento do conceito de “segurança psicológica” e do combate à hierarquia tóxica nas instituições.