E quando perdemos alguém?
A morte de um ente querido bem como o término repentino de um relacionamento ou perda de algo pode mobilizar ideias, sentimentos e fantasias intensas, e levar a questionamentos existenciais profundos. Diante de uma perda ou de alguém enlutado, é comum ficar muito confuso sobre o que está sentindo e sobre como lidar com o enlutado, o que fazer, o que dizer e o que não dizer.
O luto é um processo de adaptação que se dá naturalmente após perdermos algo ou alguém que gera reações intensas (muitas vezes inconscientes) que são comuns, esperadas e individuais. Essas reações abrangem manifestações emocionais, comportamentais, físicas e cognitivas.
Manifestações emocionais frente ao luto
- Emocionais
sentimentos de culpa, raiva, choque, ansiedade, medo e tristeza
- Comportamentais
mudanças de humor, alterações no sono e na alimentação, isolamento social
- Físicas
fadiga, tensão, sudorese, aceleração dos batimentos cardíacos
- Cognitivas
confusão, pesadelos, nervosismo, baixa concentração, dificuldade em tomar decisões
Com o passar do tempo e conforme for havendo a elaboração do luto, é esperado que tais reações diminuam tendendo a desaparecer. No entanto, não existe um prazo definido para essa elaboração uma vez que ela é um processo que varia de pessoa para pessoa e precisa ser respeitado.
A psiquiatra suiço-americana Elisabeth Kubler-Ross, pioneira e referência no tema, escreveu o texto Sobre a morte e o morrer (1998). Nessa obra ela reúne, em estágios, as fantasias, os comportamentos, as ansiedades e as defesas comuns existentes no processo de luto:
Os cinco estágios de Kubler-Ross
Negação
Defesa mental que evita o contato com um fato que promove desequilíbrio e sofrimento emocional e o fato passa a ser tratado como não ocorrido.
Raiva
Quando o individuo não consegue mais negar ou o fato foi tão impactante que impediu a ocorrência da negação e ele passa a sentir ódio e a demonstrar seu inconformismo por meio de atitudes violentas.
Negociação
Momento em que a pessoa aceita a realidade mas tenta efetuar acordos que possibilitem manter uma visão menos realista do fato.
Depressão
Momento que a pessoa está elaborando lutos. A pessoa se mostra mais retraída, triste, sofrendo intensamente e evita contato com quem não respeita seu momento.
Aceitação
Quando os estágios anteriores foram vivenciados e há vivencia de tranquilidade. A pessoa consegue se desligar, dormir e repousar de um processo intensamente sofrido.
Quando se deve procurar o psicólogo, em situação de luto?
Quando houver:
– dificuldade para perceber e expressar os sentimentos;
– dificuldade para compreender e respeitar as reações de sofrimento do outro;
– dificuldade para aceitar a realidade;
– dificuldade para retomar a rotina.
– houver vivência de perdas traumáticas;
– houver falta de apoio social e familiar;
– houver desenvolvimento de manifestações somáticas e doenças.
Possíveis reações de crianças frente ao luto
As crianças expressam suas emoções diferentemente do adulto por não fazerem ainda muito uso da expressão verbal. Seu sofrimento pode ser demonstrado por meio de comportamentos regredidos, agressivos ou simplesmente fazerem de conta que nada aconteceu (negação).
Tais reações precisam ser compreendidas e respeitadas, assim como as reações apresentadas pelos adultos no processo de luto. Para ajudar a criança, é importante transmitir a ela os sentimentos por meio da palavra. Como? Dê oportunidades para ela expressar os sentimentos ludicamente (por meio de desenhos e brincadeiras). Mostre a ela como você está lidando: chore e fale do que está sentindo. Não procure esconder como você ou os outros estão reagindo frente a perda, pelo contrário, ao expressar a sua dor na presença da criança você a ajuda a expressar a dor dela e a entender que o que ela está sentindo é natural e importante. E o fundamental: respeite o tempo de luto dela e não exija que ela reaja de um ou outro modo determinado.
Como lidar com o enlutado: o que fazer, o que dizer e o que não dizer?
Respeite o modo como ele estiver reagindo, não espere nem cobre.
Na dúvida do que falar, prefira calar-se, ouvir e perguntar o que ele está precisando naquele momento.
Ofereça a sua presença e a sua ajuda sem invadir, não somente no momento agudo mas inclusive após a passagem do tempo.
Referencias:
KUBLER-ROSS, E. Sobre a morte e o morrer: São Paulo: Martins Fontes, 1998a.